O que as festas juninas representam para nós aqui no Criando...

Ainda observamos muita degradação da cultura popular brasileira nas Festas Juninas, em que os caipiras são vistos como ignorantes. Poucos explicam a origem das festas e a importância do cidadão campesino e resguardam, assim, sua dignidade.

Entretanto, o estudo da sociedade existente em São Paulo, desde os primórdios de sua história, mostra que o modo de viver caipira é considerado como a “forma mais antiga de civilização e cultura da classe rural brasileira, constituída desde os primeiros tempos da colonização”, como afirma Maria Isaura Pereira de Queiroz. Tanto que, até o final do século XVIII, os termos “paulista” e “caipira”, eram, na prática, equivalentes.

Paulo Freire nos presenteia com os dizeres: “Para que os homens simples sejam tidos como absolutamente ignorantes, é necessário que haja quem os considere assim. Estes como sujeitos desta definição, necessariamente a si mesmos se classificam como aqueles que sabem. Absolutizando a ignorância dos outros, na melhor das hipóteses relativizam a própria ignorância. Realizam deste modo, o que chamamos “alienação da ignorância”, segundo a qual esta se encontra sempre no outro, nunca em quem a aliena”.

É fato que a religiosidade se faz presente na “Cultura Popular” do nosso país. E, em se tratando da Cultura, temos sim o movimento de reconhecê-la e preservá-la, porém a religiosidade não se faz presente dentro da nossa abordagem educacional. A nossa abordagem é laica, ou seja, acreditamos que cada família é responsável pela escolha de uma educação religiosa ou não. A escola está para respeitar toda e qualquer escolha das famílias nesta abordagem.

Contudo, nós, do Criando, temos como intenção reconhecer e preservar as tradições antigas como forma de cultura popular, como as músicas, os arrasta-pés, a quadrilha, a fogueira, o mastro, o correio elegante, as comidas típicas, dentre outras, fazendo uma festa linda, em homenagem aos homens e mulheres rurais que tanto fizeram e ainda fazem pelo nosso país.

E este ano, ainda que tenhamos que nos adequar a circunstância do distanciamento social que a pandemia exige, seguimos firmes no proposito de que possamos comemorar coletivamente a colheita de tudo que desejarmos.

Teremos, dessa forma, uma festa com a sua própria organização artística e cultural com uma estética própria e autêntica, sem nos esquecer das novas tendências educacionais, como o multiculturalismo, a pluralidade cultural e o diálogo entre as culturas.

Então, como um primeiro movimento, convidamos a todos para um breve mergulho na história para que possamos compreender a origem cultural dessa comemoração, que apresentamos a seguir.

A comemoração é mais antiga do que parece, vinda da parte católica da Europa para o Brasil, no período da colonização pelos portugueses. A festa era em homenagem ao dia de São João, 24 de junho. Por isso, ela ainda era chamada de festa joanina, e posteriormente se tornou junina por acontecer no mês de junho. Mas a história de sua origem vem de tempos ainda mais remotos, em que se festejava a boa colheita e o solstício, em rituais celtas praticados pelos primeiros europeus. Assim, a Igreja Católica se apropriou deles e os cristianizou.

No Brasil, a festa junina ganhou força e identidade principalmente no nordeste. Lá, os ritmos típicos, como forró, xote e baião, foram incorporados a ela. O dia de São João não é o único a ser comemorado. Existem também os de Santo Antônio, o santo casamenteiro, e de São Pedro. Com isso, as festas duram praticamente o mês inteiro de junho. Além disso, elas também têm a função de agradecer as chuvas, que permitem a manutenção da agricultura após um longo período de seca.

Um dos detalhes que chama a atenção nas comemorações são os trajes típicos de Festa Junina, que são um exemplo claro da riqueza multicultural do Brasil. Na sequência vamos falar sobre eles, mas antes vale lembrar que como já explicamos, apesar da Festa de São João ser uma comemoração tão tipicamente brasileira que parece mesmo coisa da nossa terra, ela é original da Europa, e do mesmo modo a tradição do uso dos trajes vem de lá.

De acordo com os antropólogos Renato da Silva Queiroz, da USP, e Maria Amália Giffoni, a origem dos trajes típicos de Festa Junina deve muito à corte portuguesa do período colonial. Afinal, de modo geral, foram os aristocratas que trouxeram as quadrilhas para o Brasil. A quadrilha por sua vez, originada em Paris no século XVIII, esse tipo de dança era conhecido como “quadrille“. O estilo tinha origem na contradança que, por sua vez, surgiu com os ingleses.

Esse baile era muito dançado entre os camponeses da Normandia e da Inglaterra. E Já aqui, em solo tupiniquim, em terras brasileiras, os casais dançavam trocando de pares nos salões da nobreza. Para a festa, então usavam anáguas, roupas exageradas, perucas e tudo mais que a moda francesa mandava.

Na medida em que a quadrilha deixou de ser uma dança exclusiva dos salões dos palácios para invadir as festas populares, os trajes típicos adotados pela população se inspiravam nas roupas da nobreza. Desse modo, o costume era que mesmo os camponeses mais simples vestissem as suas melhores roupas para o festejo.

Nesse sentido, com anáguas volumosas ideais para dançar quadrilha, os vestidos femininos então ganhavam mais movimento, estrutura e volume. Do mesmo modo, o traje masculino composto por camisa, calça e colete se inspirava naquele da nobreza. Com o passar do tempo, foram surgindo diversas reinterpretações dos trajes típicos de Festa Junina. Ao final do século XIX, por exemplo, as damas dançavam quadrilha com vestidos pouco rodados e muito compridos, com gola alta e cintura bem marcada. Ele era então complementado com botinas de salto.

Por sua vez, os cavalheiros vestiam colete, paletó alongados até o joelho com três botões, calças ajustadas e camisa de colarinho duro. Além disso, como acessórios, gravata de laço e botinas. Bem diferente do que vemos hoje em dia, não é?

 Depois que as quadrilhas chegaram ao Brasil, a contradança foi estilizada. Além da capoeira dos escravos, o baile também recebeu influência e se misturou com elementos da polca e, posteriormente, do forró – afinal, a festa se tornou a queridinha do Nordeste. Assim, com o tempo, a Festa Junina se tornou mais do que nada uma grande festa popular. O termo caipira, que também passou a designar quem participava do baile, significa pessoa do interior ou da roça. Muito difundido em São Paulo, ele pode ser usado para se referir aos trajes típidos de Festa Junina, também chamados de trajes caipira.

Como a celebração se popularizou muito entre os camponeses, logo os sapatos de salto foram substituídos por sandálias simples de couro. Do mesmo modo, as pessoas então trocaram os tecidos caros pelas chitas. Além disso, o chapéu de palha se somou ao traje, sendo um item muito usado pelos trabalhadores do campo como proteção ao sol.

As mulheres então encurtaram os vestidos por conta do calor e da praticidade. Por sua vez, as calças masculinas eram remendadas por necessidade, ganhando, assim, uma cara nova. Afinal, a maior parte dos camponeses possuía poucas peças, tendo também que usá-las para trabalhar nas lavouras.

Como resultado, foi esse mix de criatividade e necessidade que deu origem aos trajes típicos de Festa Junina que vemos hoje em dia.

Acima de tudo, eles são cheios de cor e vida, como a própria comemoração!

Então, “bora” preparar os trajes e uma comidinha boa, porque da nossa parte a música e o clima de muita alegria estão mais que garantidos.

 

Para saber mais, acesse o site:

  • ufrgs.br/espmat/disciplinas/geotri/modulo3/problema_solsticio.htm
  • Qual a origem dos trajes típicos de Festa Junina? A Festa de de São João. (fashionbubbles.com)

 

Por Natalia Cardia

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